retirado do site de Ricardo Noblat
O PT foi posto numa sinuca de bico – e o único responsável por isso se chama Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República com 80% de aprovação popular e presidente de honra do partido que fundou há quase 30 anos.
A sinuca de bico tem a ver com o apoio do PT ao senador José Sarney (PMDB-AP) e do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff.
Lula não ouviu o partido para inventar a candidatura de Dilma à sua sucessão no próximo ano. Se tivesse ouvido esbarraria em forte resistência. Dilma não tem história dentro do PT.
Mesmo assim Lula conseguiu que o PT a digerisse sob pena de não contar com ele como cabo eleitoral caso fosse outro o candidato.
Foi o triunfo da vontade solitária de um líder acostumado a mandar e a ser obedecido.
O passo seguinte de Lula, ainda à espera de um desfecho, foi convencer o PT de que ele deverá ceder espaço ao PMDB nos Estados se quiser tê-lo como aliado da candidatura Dilma.
O que Lula tem defendido em conversa com seus companheiros – ou melhor: seguidores?
Que sem o PMDB nem São Lula será capaz de operar o milagre de eleger quem nunca foi candidata a nada.
Para ter o PMDB no palanque de Dilma, não basta que ele, Lula, conserve seu alto índice de popularidade. Isso é muito, mas não é tudo.
O PT deve abrir mão de disputar governos estaduais onde o PMDB disponha de candidatos viáveis. E concentrar sua energia na tarefa de eleger o maior número possível de deputados federais e de senadores. Principalmente de senadores.
E agora vem o arremate do raciocínio de Lula: uma vez que eleja Dilma e uma grande bancada de deputados e de senadores, o PT dependerá menos do PMDB para governar. Poderá reconquistar a posição de protagonista no governo.
No momento, tal posição pertence ao PMDB, que detém seis ministérios e uma centena de preciosos cargos. No primeiro mandato, Lula desdenhou da força do PMDB. No segundo, rendeu-se a ela.
O PT esperneou, mas parecia disposto a ser outra vez engabelado por Lula. Então irrompeu a crise do Senado que acabou virando de alguns meses para cá a crise do Sarney.
Lula acha que sustentar Sarney na presidência do Senado é mais um lance do plano para aferrar em definitivo o PMDB ao palanque de Dilma.
Só que tem um detalhe: aumenta o preço que o PT terá de pagar para ver o PMDB ao lado de Dilma.
Sob a garantia do anonimato, cabeças coroadas do PT apontam uma grave falha na tese do sacrifício vendida por Lula ao partido.
Como o PT poderá pensar em fazer crescer sua bancada de deputados federais e senadores se disputar as próximas eleições na condição de responsável pela manutenção de Sarney na presidência do Senado? Sim, porque o destino de Sarney está nas mãos do PT e de mais ninguém.
Oito dos 12 senadores do PT são aspirantes a candidato à reeleição ou a governos. O líder Aloizio Mercadante é um deles.
A oposição vai recorrer ao plenário do Conselho de Ética da decisão do seu presidente de arquivar todas as denúncias contra Sarney.
Sem os três votos do PT ali, nenhuma denúncia será desarquivada. Se não for, a oposição recorrerá da decisão para o plenário do Senado. Novamente fracassará sem os votos do PT.
Renan Calheiros (AL), atual líder do PMDB, foi julgado duas vezes pelo plenário do Senado por quebra de decoro. Na primeira vez, 35 senadores votaram por sua condenação. Seis senadores do PT preferiram se abster. Foram os votos que faltaram para que ele fosse cassado.
Na segunda vez, Renan foi absolvido com folga. Aos olhos do público, Renan e Sarney simbolizam tudo o que existe de mais sujo na política.
Depois de salvar Renan, o PT está pronto para salvar Sarney.
O PMDB agradece o estoicismo do PT. Sairá mais forte a custa dele. Nem por isso garante que fechará com Dilma. Dependerá das chances de ela vencer.
Está por se consumar um fato destinado a atrapalhar a vida de Dilma: a candidatura a presidente pelo PV da senadora Marina Silva.
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